segunda-feira, 29 de novembro de 2010

chove a tarde
e eu vou chovendo junto.
escorrem as minhas certezas
e a minha casca se desfaz.

quero mesmo é me despir.
jogar minhas roupas repletas de imagens
agarrar-me a tudo que possa trazer verdade.
um sentido qualquer que norteie qualquer coisa.

transbordam as ruas com suas poças enlamaçadas
e os meus olhos. antes tristes, agora tão perdidos e confusos.

mas não. não quero adormecer.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Disso tudo me resta um punhado de pequenas certezas
e uma infinidade de planos.
Abandono a insegurança
e amanheço esperança.
Quero viver, ler, escrever, encontrar.
Digo adeus aos antigos pseudônimos.
Eu quero é me mostrar ao mundo!

domingo, 21 de novembro de 2010

aproveitando seu impulso
e pegando seu vácuo
cá estou eu tentando redescobrir
a delícia do 'alívio imediato'.

(para huguinho, que volta e meia faz com que eu largue de preguiça e venha tirar a poeira disso aqui, com amor)
acordei com vontade de agarrar a lembrança e apertá-la.
reviver um momento daqueles de tirar o fôlego
e fazer surgir borboleta no estômago.
é que tanta coisa parece fugir por entre os dedos das minhas mãos
que de repente tudo que sobra são os papéis, fotografias
e amores tão frágeis quanto eternos.
abandono o paradoxo da solidão acompanhada
para me ver presa em uma realidade diferente.
é tempo de curtir, conhecer novas pessoas.
tempo que em mim aumenta o vazio, a saudade do que não passou,
e a estranha sensação de viver pela metade.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A sua lembrança me dói tanto.
Eu canto pra ver se espanto esse mal, mas só sei dizer um verso banal
Fala em você, canta você
É sempre igual

Sobrou desse nosso desencontro um conto de amor sem ponto final, retrato sem cor jogado aos meus pés.
E saudades fúteis, saudades frágeis, meros papéis...

Não sei se você ainda é a mesma ou se cortou os cabelos, rasgou o que é meu.
Se ainda tem saudades e sofre como eu,
ou tudo já passou, já tem um novo amor, já me esqueceu...

(O velho Chico)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A meio pau

Queria mais um amor. Escrevi cartas,
remeti pelo correio a copa de uma árvore,
pardais comendo no pé um mamão maduro
- coisas que não dou a qualquer pessoa -
e mais que tudo, taquicardias,
um jeito de pensar com a boca fechada,
os olhos tramando um gosto.
Em vão.
Meu bem não leu, não escreveu,
não disse essa boca é minha.
Outro dia perguntei a meu coração:
o que há durão, mal de chagas te comeu ?
Não, ele disse: é desprezo de amor.

(Adélia Prado)

sábado, 25 de setembro de 2010

(...)Saberemos viver uma vida melhor que esta,
quando mesmo chorando é tão bom estarmos juntos?
Sofrer não é em língua nenhuma.
Sofri e sofro em Minas Gerais e na beira do oceano.
Estarreço de estar viva. Ó luar do sertão,
ó matas que não preciso ver pra me perder,
ó cidades grandes, estados do Brasil que amo como se os tivesse inventado.
Ser brasileira me determina de modo emocionante
e isto, que posso chamar de destino, sem pecar,
descansa meu bem-querer.
Tudo junto é inteligível demais e eu não suporto.
Valha-me noite que me cobre de sono.
O pensamento da morte não se acostuma comigo.
Estremecerei de susto até dormir.
E no entanto é tudo tão pequeno.
Para o desejo do meu coração
o mar é uma gota.

(Adélia Prado)

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

malditos brincos que insistem em não sair da orelha
fazendo pirraça
só pra lembrar você.
12:12
13:13
14:14
15:15
16:16

23:23

apenas duas coisas permanecem:
o horário igual (que me faz pensar em você)
eu pensando em você.

domingo, 19 de setembro de 2010

De você sei quase nada. Pra onde vai ou porque veio, nem mesmo sei qual é a parte da tua estrada no meu caminho.
Será um atalho ou um desvio?
Um rio raso? Um passo em falso? Um prato fundo pra toda fome que há no mundo?

Noite alta que revele um passeio pela pele.
Dia claro, madrugada, de nós dois não sei mais nada.

Se tudo passa, como se explica o amor que fica nessa parada?
Amor que chega sem dar aviso, não é preciso saber mais nada.

[Quase nada - Zeca Baleiro]

sábado, 21 de agosto de 2010

quinta-feira, 17 de junho de 2010

não fosse isso
e era menos
não fosse tanto
e era quase

(Leminski)

rio de mistério

rio do mistério
que seria de mim
se me levassem a sério?

(Leminski)
Leminski é um dos meus autores favoritos.
É mágico ver como tão pouco diz tanto.
Tudo funciona de um jeito que não cansa, onde o encanto vem aos poucos, e as palavras entram de mansinho pelos ouvidos, e de repente... sorriso.

pelos caminhos que ando
um dia vai ser
só não sei quando
(Leminski)

segunda-feira, 14 de junho de 2010

baseado em fatos reais

sombra assustadora
meu cabelo
preciso de uma tesoura!

(por Bia e Let)
demasiada poesia
ás vezes dói
por ser demais
Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeira companhia.
(Nietzsche)
A paixão é
covarde.
Permanece distante...
se faz de sonsa...
mas quando quer
ligeirinho provoca o maior alarde.

Me deixa atônito!
Quando penso que está longe,
num susto me invade.

Fico sem saber...
na verdade, até sei,
que quando vem à tona
sabe como ninguém
me deixar, completamente,
às tontas.

[em parceria com Huguinho]

domingo, 6 de junho de 2010

Poema da despedida

Não saberei nunca
dizer adeus
Afinal,
só os mortos sabem morrer

Resta ainda tudo,
só nós não podemos ser

Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo

Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos

Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca

Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei

Ainda assim,
escrevo

(Mia Couto)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

o amor, esse sufoco,
agora há pouco era muito,
agora, apenas um sopro

ah, troço de louco,
corações trocando rosas,
e socos.

(Leminski)

ainda ontem
convidei um amigo
para ficar em silêncio
comigo

ele veio
meio a esmo
praticamente não disse nada
e ficou por isso mesmo
(Leminski)
Por ser tranqüilo, por ser sincero, não me preocupa...
O que não for é o que vai passar...
(H. Viana)
É mágoa,
já vou dizendo de antemão, se eu encontrar com você tô com três pedras na mão.
Eu só queria distância da nossa distância, sair por aí procurando uma contramão...
Acabei chegando na sua rua, na dúvida qual era a sua janela lembrei que era pra cada um ficar na sua, mas é que até a minha solidão tava na dela.
Atirei uma pedra na sua janela e logo correndo me arrependi.
Foi o medo de te acertar. Mas era pra te acertar e disso eu quase me esqueci.
Atirei outra pedra na sua janela, uma que não fez o menor ruído, não quebrou, não rachou, não deu em nada.
E eu pensei: talvez você tenha me esquecido.
Eu só não consegui foi te acertar o coração. Porque eu já era o alvo de tanto que eu tinha sofrido...
Aí nem precisava mais de pedra, minha raiva quase transpassa a espessura do seu vidro.
É mágoa,
o que eu choro é água com sal...
Se der um vento é maremoto, se eu for embora não sou mais eu...
Água de torneira não volta, e eu vou embora, adeus...

(A. C.)